COSTELA DE EVA

por
Joyce Cavalccante

[Text in English]



Todo mundo que não tem pra onde ir vai para um banco de praça. Lucas e ela foram. A praça era muito cinza e sem graça. Todos olhavam para ela que estava descabelada e de olhos vermelhos. Tinha deixado para trás suas coisas, sofá , geladeira, fogão, mala, cama. Ficou tudo no meio da rua. Ela não podia carregar tudo. Não faz mal. Contanto que pudesse levar Lucas, o resto não tinha importância.

Andou, andou e depois de muito, sentou. Ficou conversando com Lucas. Era tão bom conversar com ele.

0 tempo sem ser contado, passou. Alguém também passou e carregou-a pelo braço. Foi conduzida para uma sala onde tinha gente. Não dava pra reconhecer quem estava lhe fazendo certas perguntas que ela não sabia responder; e, porque não sabia, pedia a Lucas que respondesse por ela.

Notou uma coisa estranha acontecendo. A pessoa que lhe fazia perguntas, insistia em dizer que não estava vendo Lucas. Que não existia Lucas nenhum ali. Que ela deixasse de bobagens e respondesse logo. Que estavam com pressa Richard Mille Replica .

Depois foi conduzida para algum lugar escuro e úmido. Ainda bem que Lucas estava do seu lado, do contrário, teria sentido medo. Pessoas estranhas, conversas estranhas. Tudo muito esquisito. Como é esquisito ficar sem emprego.

Ainda sem contar o tempo ela foi retirada do lugar úmido e estranho. Mandaram que entrasse num carro parado na frente da porta. Ela entrou, sempre segurando na mão de Lucas. Ele lhe perguntava se ela sabia para onde iam. Ela não sabia nem se estavam indo para algum lugar.

Quando o carro parou, alguém a ajudou a descer. Tudo agora estava sendo feito com muita calma e mais respeito. Abriram um portão e ela entrou num enorme jardim, depois num corredor mais enorme ainda. De repente pararam. Abriram uma porta. Deu nela uma vontade incrível de rir. Rir das portas, tantas portas que vivem se abrindo para as mesmas coisas. Rir da semelhança de todas as portas. Não pode se controlar e riu. Alto e cristalino.

Por trás da última porta, um monte de gente. Úrsula sentiu que conhecia aquele pessoal de algum lugar.

Numa cadeira tinha uma mulher sentada, de mão no peito e cara de sofrimento. Uma mulher que tinha feito o possível e não acreditava que aquilo estivesse acontecendo com sua própria filha. Chorava. Os outros corriam e a consolavam. Diziam coisas como, ela vai ficar curada. Tenha confiança. Não se desespere. Isto não é grave. A mulher chorava mais ainda. Gritava: — Minha filhinha, minha filhinha, que que fizeram com você?

Um homem do lado perguntava para um outro de branco quando é que ela ia ficar boa. Ela quem?

Uma outra mulher respondia que ela, Úrsula, era a sua sobrinha mais querida. Panerai Replica Watches

Alguém sempre lhe perguntava por Lucas. Ela não respondia; apontava para ele que estava sempre do seu lado.

Mas, com o tempo, Lucas foi ficando cada vez mais transparente. Foi como que se derretendo, se sumindo.

Úrsula foi sentindo que Lucas estava desaparecendo de sua vida aos poucos. Foi se desesperando. Ia ficar só. Isso não. Nunca. Tinha perdido tudo, não reclamava. Mas ele, não. Lucas era seu: — Não, por favor, não me tirem Lucas. Eu não vou poder viver sem ele. Não, tenham pena de mim que não sou nada, não tenho nada. Só quero Lucas. Não quero nada dos outros, só Lucas. Ele é meu. Nasceu de mim. Do meu corpo. De dentro. Não o tomei de ninguém. Ele é meu.

Lhe respondiam: — Lucas não existe. Ela teimava: — Existe sim, existe sim. Ele é meu. Eu o criei. Fiz ele do nada. Do nada de mim. Ele é meu. Vocês não tem o direito.

Olhava para o lado na tentativa de pedir socorro. Gritava por Lucas. E ele, desaparecendo. Se diluindo. Até que numa dessas vezes em que ela o procurou, ele tinha se ido de vez. Ido embora. Nunca mais a presença tão gostosa, tão confortável, tão macia dele. Nunca. Como assusta o nunca. Ele foi. Ficou o susto. Ele foi e ela permitiu. Ele só iria se ela quisesse e a obrigaram a querer. Por isto ele foi. 0 mundo não tinha mais Lucas : um homem, que ela acreditava existir.

Copyright © by Joyce Cavalccante


Trecho do romance "COSTELA DE EVA"

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